segunda-feira, 16 de maio de 2011

Onde descansar os mortos


Depois do ódio alemão e do calor de Hiroshima,
caminhamos pela terra árida como se fosse um jardim.
Arrastamos nossos mortos até um lugar onde se podia avistar toda a devastação.
Encontramos finalmente um rio
assoreado por lixo atemporal.
Mas a água não precisa estar limpa, só precisa estar lá.
Descansamos nossos mortos na margem.
Pisamos o leito macio do rio.
As águas encardidas amolecendo os tornozelos.
Deitamos ali mesmo. A lama era a única cama possível.
A água a escorrer por nossos corpos em cachoeira.
Dormimos sonhos impecáveis até quase afogar.
E esperamos nossos mortos secarem ao sol
antes de cumprirem a missão sagrada de adubar o mundo.
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