sábado, 29 de junho de 2013

Minha outra casa



Tem um homem do outro lado do mundo onde posso deitar e sonhar. É um homem amplo e sólido, de forma a receber quem queira nele se esticar ao sol. O homem tem jardim e perfumes que pensávamos extintos há milhares de anos. Na sua varanda me balanço a olhar as crianças correndo por ele todo, que se ri como se lhe fizessem cócegas. Um livro cai da minha mão quando ele me beija à tarde, na hora mais quente, e fecha as cortinas atrás de mim. Nesse homem há um fogo sempre aceso, feijão, pimentas, café e hortelã. Um cachorro grande e louro é seu amigo. E logo atrás do seu sorriso há um quarto branco com cheiro de algodão e música azulada para dançar na cama.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Teia



Olhei seu braço.
E os olhos se agarraram à força para evitar o abismo.
Traindo visão e vertigem,
minha mão se abriu para acertar o caimento do cabelo sobre a sua testa,
como se meus dedos pudessem acertar o fio da história,
desfazer a teia que nos mantinha suspensos
e suspensas as perguntas em nossos ouvidos.

Da queda
fui ao chão crescer enraizada na planta dos meus próprios pés
toda flor
sempre viva
eu o vi maior do que nunca,
aquele a quem acenei com a mão. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013






















O vapor da sua barba exala agora
um perfume para abraçar meu rosto.
Fecha o tempo, troveja um susto no meu peito
e chove ruidosamente onde há verão.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Peixes de aquários













Como peixes, respiramos Deus.

Mergulhados na divindade,
ainda vivemos o isolamento de aquários submersos
plantados no universo líquido e transparentes à verdade abissal.

A boca toca o vidro,
beija o vidro,
imagina o mar de fora,
tão oceano quanto o mar que habita.
Nem mesmo a lágrima escapa ao sal da vida.


Cada um escolhe o tamanho do seu mar.
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