domingo, 1 de dezembro de 2013

Ulisses



Sereiando-te
E tu, vens marinhar?

Sereiando-te
Amarra os sentidos
Pra não arrepiar.

Sereiando-te
Ancora as ondas
que te vagueiam.

Sereiando-te.
Aporta no indizível.
Vem marinhar.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013













Sozinhos sem livros, muito menos historias.
Não há música nem lápis.
A única eletricidade disponível estremece as veias.
Apenas o som do corpo latejando.
Entranhas nos entram mais ainda e abrem vazios.
O ar corre pelos cantos,
A pele a secar.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sal

Salar de Uyuni - Tom broadhurst













Ouço ondas espumando em teus olhos,
no vai e vem entre corpo e alma. 
Antes da pele anoitecer enxergo
A lágrima
A se afogar onde rende o sal.

És o salar que chora o suor brilhante de tantos sóis!
Sal onde vaga minha sede, 
tempera a carne e cega a vontade.

domingo, 29 de setembro de 2013

Pedras, cadáveres

Mulher haitiana fuma um charuto sobre escombros de um prédio, em Porto Príncipe // Reuters/Eduardo Munoz (Reuters/Eduardo Munoz)
Eduardo Munoz













Ao se deitar uma mulher sente sobre si todos os mortos com quem já dormiu.

O peso lhe esmaga as entranhas,
Amputa à mão o desejo de tocar o homem em carne viva ao seu lado na cama.

Sentia-se apedrejar.
Atiravam-lhe homens em cadáver.
Cabeças e dentes afiados sem dó da delicada pele que a protegia.


Não se ouviu grito até o corpo abdicar pedaços.

sábado, 29 de junho de 2013

Minha outra casa



Tem um homem do outro lado do mundo onde posso deitar e sonhar. É um homem amplo e sólido, de forma a receber quem queira nele se esticar ao sol. O homem tem jardim e perfumes que pensávamos extintos há milhares de anos. Na sua varanda me balanço a olhar as crianças correndo por ele todo, que se ri como se lhe fizessem cócegas. Um livro cai da minha mão quando ele me beija à tarde, na hora mais quente, e fecha as cortinas atrás de mim. Nesse homem há um fogo sempre aceso, feijão, pimentas, café e hortelã. Um cachorro grande e louro é seu amigo. E logo atrás do seu sorriso há um quarto branco com cheiro de algodão e música azulada para dançar na cama.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Teia



Olhei seu braço.
E os olhos se agarraram à força para evitar o abismo.
Traindo visão e vertigem,
minha mão se abriu para acertar o caimento do cabelo sobre a sua testa,
como se meus dedos pudessem acertar o fio da história,
desfazer a teia que nos mantinha suspensos
e suspensas as perguntas em nossos ouvidos.

Da queda
fui ao chão crescer enraizada na planta dos meus próprios pés
toda flor
sempre viva
eu o vi maior do que nunca,
aquele a quem acenei com a mão. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013






















O vapor da sua barba exala agora
um perfume para abraçar meu rosto.
Fecha o tempo, troveja um susto no meu peito
e chove ruidosamente onde há verão.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Peixes de aquários













Como peixes, respiramos Deus.

Mergulhados na divindade,
ainda vivemos o isolamento de aquários submersos
plantados no universo líquido e transparentes à verdade abissal.

A boca toca o vidro,
beija o vidro,
imagina o mar de fora,
tão oceano quanto o mar que habita.
Nem mesmo a lágrima escapa ao sal da vida.


Cada um escolhe o tamanho do seu mar.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Nem tudo que reluz é ouro


Acordei feliz, como seria impossível em um domingo. Coincidência ou não, A Felicidade Clandestina se escondia sob o edredom. Parecia até que também tentava se proteger daquela manhã fria.

Tememos os domingos e vamos a missa.
Não ri demais que vai acabar chorando...
Afinal, o riso é um gozo que escorre pela face.

Protegida e ainda morna acariciava o meu edredom, pesado como um velho cansado sobre mim. Sentia uma alegria de parque de diversões ali, na minha cama. Também havia uma certa culpa disfarçada no meio das cobertas. 
Mas naquele momento eu a serenei com um carinho de mãe.

Posso sim dar um colo a essa que me persegue.

Vai ficar aí dormindo até tarde? O dia está lindo. Lagoa, Parque Lage? E se vai ficar em casa vê se arruma suas coisas. O quarto da bagunça um dia vai virar escritório? E o quarto de empregada vai continuar daquele jeito? Não dá nem pra entrar ali...

Não adiantou ouvir seus gritos, Clarice. Tive que viver eu mesma essa mística do quarto de empregada. Chegar lá e vê-la assim, barata. Essa outra, reluzindo na gosma branca.

sábado, 11 de maio de 2013

Eu sou a gosma branca da barata morta.
Asa quebrada.
A língua que lambe a verdade selvagem,
claríssima.
Na varredura das horas
não há tempo.
E continuamos aqui esperando Godot.

domingo, 21 de abril de 2013















Faltam pernas
e o ar
para abraçar
o brilho no fundo do mar.

Então que venham as ondas
em bandejas de prata
espumando todos os meus buracos.

Na areia molhada
me aconchego no Gil
"nossa caminha dura".
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